As palavras do João – Verdes, azuis e outras manchas
Era suposto dois jogos de futebol começarem exatamente à mesma hora, o Porto – Marítimo e o Penafiel – Sporting. Verifica-se, no entanto, que o Porto – Marítimo tem o seu início já o Sporting defrontava o Penafiel há 3 minutos.
Bruno Carvalho, presidente do Sporting Clube de Portugal, protesta, e muito bem, junto da Federação Portuguesa de Futebol e pede inclusivamente a retirada do Porto da Taça da Liga.
O Conselho de Jurisdição da Federação, que antes multara o Porto na ridícula quantia de 383 euros, passa água pela própria cara e sobe a fasquia para os 3 060 euros, o que, em bom entender, só pode ter sido para tapar o sol com a peneira.
O órgão jurídico da FPF, embora dando razão ao recurso do Sporting, diz e desdiz-se, entendendo primeiro que o Porto não teve intenção de prejudicar terceiros para logo a seguir estragar tudo ao afirmar reconhecer que o atraso do Porto “foi intencional.” E o clube nortenho fica injustamente ilibado de qualquer responsabilidade e mantém-se na corrida da Liga.
Pergunto: o que é isto? Como é possível continuar a aceitar este tipo de atitudes? De cada vez que assisto a estas condescendências e a outras de má memória, tipo apito dourado, por exemplo com mafiosos a telefonarem a outros a pedirem para que o árbitro seja este e não aquele, lembro-me com viva saudade de Augusto Moura, um enorme atleta, conceituado professor de ginástica e treinador de futebol no liceu de Ponta Delgada, homem sério, de cara férrea quanto bastasse, mas de moral inquebrantável, a nunca se deixar vergar por nada nem por ninguém quando estava em causa a verdade desportiva.
O professor não se cansava de nos encher os ouvidos com apelos ao fair play e ao desportivismo – “Há que ser valente nas quatro linhas – dizia-nos – mas saber aceitar os resultados lá dentro e cá fora com a alegria de quem ganha ou com a tristeza de quem perde, mas, neste último caso, com a elegância dos dignos vencidos”.
O árbitro era ele próprio, soberano mas sério. Nem nos passava pela cabeça que Augusto Moura alguma vez perverteria um resultado – longe disso – para beneficiar este ou aquele clube.
Havia classe e decência. Hoje, no futebol da bola, como em outros tantos futebóis, impera a lei do gabiru onde os bons são eles, “os artistas”. Gente séria é coisa tosca, ridícula e perfeitamente dispensável.
João Gago da Câmara