Crónica de Opinião – 19 de setembro de 2014

As palavras do João – É urgente a música portuguesa

açores_radio_lumena_noticias_turismo_ilha_cronica_João_Gago_CâmaraRDP Açores. Deixamos o convite aqui ao nosso auditório para que nos acompanhe nos próximos minutos com a nossa boa música portuguesa. Um anúncio desta natureza já raramente se ouve na nossa estação de rádio pública, paga por todos nós, açorianos. Nos dias de hoje, dominam as seleções musicais anglo-saxónica rock e pop, a country, a soul, a afro, a funk, a hip hop, a punk, a psicadélica, a gótica, destas últimas, a maior parte, digo convictamente, teimosamente ridículas. Há muitos anos que vou anualmente a Espanha, tendo já percorrido a quase totalidade do país vizinho e, seja qual for a estação que sintonizo, só consigo ouvir música espanhola. Aceito que haja um exagero de música cantada em espanhol pelas rádios do país irmão, todavia o facto é que em Espanha gosta-se de ouvir música do país, dela se construindo ídolos que são respeitados e até venerados, e, que eu saiba, poucos reclamam da música nacional diariamente emitida… E ouvinte espanhol não é menos sensível que ouvinte português. Penso até que antes pelo contrário.

De manhã, quão bom é seguimos no carro a caminho do trabalho e ouvir trechos de música portuguesa, excluindo, naturalmente, parvoeiras pirosas que ainda andam por aí a sujar o éter. Temos letras e músicas belíssimas originárias de músicos geniais. Porquê a onda de estrangeirismo embalada nesta teimosa de rodar sistematicamente o que não é nosso quando o que é nosso é bom?

Recordo-me com saudade dos tempos do velho Emissor Regional dos Açores, onde, ainda muito novo, comecei a dar voz à estação da Gaspar Frutuoso, em que o Luís Cabral, colega assistente de realização, me trazia todas as manhãs uma seleção musical feita por ele de velhos grandes êxitos da música nacional, seleção que era demais apreciada pelos ouvintes, que telefonavam às carradas a agradecer. Anos mais tarde, ele e o José Valério de Almeida lançam um programa também de música portuguesa, comentada por ambos antes e depois de emitida a música, que foi um êxito regional de audiências. Temos a quinta língua mais falada do mundo, com 280 milhões de falantes. Pelo amor de Deus, já ninguém consegue tragar meninos e meninas com manias que são modernos a dizerem baboseiras pela boca fora ao microfone e a atirarem para dentro dos leitores de cds ou dos softwares de emissão chatices pseudo – musicais com outros meninos e meninas a cantarem roucos, fanhosos e desafinados. E não conseguem discernir que a imbecilidade só estraga as horas preciosas do dia de emissão, em que, ao invés de andarem a afugentar ouvintes da estação, que lhes paga o vencimento, poderiam, por ventura, estar a construir um melhor share de audiências. Francamente, já não há pachorra!

João Gago da Câmara