As palavras do João – Lisboa e a loja das laranjeiras

À sua esquerda chega ao seu destino, refere a voz metálica do gps. O condutor do carro que transportou a senhora idosa que atravessara toda a cidade para ali ir dar a leitura do contador da eletricidade não se conteve ao ponto de soltar uma forte gargalhada quando a setpuagenária referiu, em desabafo, mas convicta: “pegue um fogo no diabo que se lembrou de pôr esta loja aqui no raio que o parta!” … , para logo a seguir, envergonhada, tapar a boca com a mão, também de preocupação pela locutora do gps (entenda-se ser a voz em gravação) ter ouvido do lado de lá o incontido vitupério. Lá dentro, na Loja do Cidadão, o caos. As pessoas atropelando-se umas às outras são atendidas por funcionárias “adolescentíssimas” e malcriadas, sobretudo incompetentes, que agravam a sua já execranda imagem com imaturos risos trocistas entrecortados por respostas tortas. Todas “numa nice”, embatem com as pontas das enormes unhas pintadas de vermelho vivo contra as teclas dos computadores como se a pirosa nova onda não as fizesse ainda mais enjoativas. Nesta loja do cidadão são múltiplos os serviços aglutinados num só edifício, localizado longe para burro, lá para bandas das Laranjeiras, com prejuízo para idosos que atravessam enormes dificuldades de locomoção, passando horas fora de casa por autocarros e metros para lá chegarem, quando os senhores ministeriais pavoneando-se nos BMW’s topo de gama, pagos do erário público, ou seja por todos nós, persistem em assobiar para o lado quando o zé povo anda a ziguezaguear por Lisboa para passar uma leitura da luz, entre outros descontentamentos. A EDP informa que recebe telefonicamente as leituras todos os dias 15, mas são tantos os telefonemas e tão poucos os operadores que não vale a pena. Este mais um exemplo da lusa democracia no seu melhor.

 João Gago da Câmara