As palavras do João – A birra do “prime”
É impossível não abordar aqui hoje a recente birra do senhor Primeiro Ministro na Assembleia da República aquando da interpelação da coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, remetendo-se o chefe do governo, intencional e escandalosamente, ao silêncio. Passos Coelho era questionado sobre matérias económicas, designadamente sobre os cortes na função pública e nos pensionistas do Estado, que já recebem pensões absolutamente miseráveis. Catarina Martins, peremptória, referia que a palavra do primeiro ministro “não vale nada”, ao que o senhor, primeiro alcançado e depois vingativo, opta por a partir daquele momento deixar de responder à deputada, melhor dizendo, aos portugueses. É que em democracia um governante que se desloca ao parlamento afim de ser interpelado, fá-lo, ou devia fazê-lo, na convicção de que foi o povo quem ali o chamou e que é o povo quem pergunta, foram os portugueses votantes no BE quem lhe punha as questões, através desta deputada. A democracia é isto! Mas não, sua excelência torna-se agora implicante e birrento, como a criancinha que se recusa a comer a sopa porque quer o bolo, fazendo carinhas e cerrando a boca: “Dado o valor que a minha palavra tem não estará à espera de resposta!” – respingou Passos para a deputada, e calou-se.
Mas que palavra tem um primeiro ministro que em Abril de 2011 (seria dois meses depois eleito chefe do XIX governo constitucional) escreve no twiter que “o PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento”… e que “se formos governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português” … e que “se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas” (temos 819 mil desempregados em Portugal e os cortes afetam 750 mil portugueses) … e ainda que “impostos e salários foram sacrificados para pagar juros demasiado altos. Quem paga hoje 34,4 mil milhões de juros à troika com os impostos, os salários e as pensões dos portugueses? E fica chateadinho o senhor quando a deputada lhe diz que a sua palavra “não vale nada”? Quem diz para logo se desdizer? Quem tenta aqui salvar a pele? Portugal não precisa disto.
João Gago da Câmara