Crónica de Opinião – 10 de outubro de 2014

As palavras do João – Ainda as praxes

açores_radio_lumena_noticias_turismo_ilha_cronica_João_Gago_CâmaraFoi a 15 de dezembro de 2013 a tragédia na Praia do Meco com seis jovens universitários a deixarem lá a vida e a enlutarem pesadamente as famílias e o país. Todos nos lembramos o quanto foi difícil para os telespetadores terem de assistir às notícias diárias sobre este desditoso caso gerado por praxes universitárias abusivas e idiotas na calada de uma noite que conseguiu calar para sempre a juventude de cinco estudantes com muito para viver. As reações da opinião pública não cessam traduzindo o descontentamento pela prescrição deste caso em tribunal como pela lerda indiferença das universidades e do ministério. Ainda há pouco tempo, Luís Pedro Nunes defendia, no programa da SIC Notícias, “O eixo do mal”, a expulsão da universidade de “imbecis” que agora dramatizaram a tragédia do Meco com uma piscina insuflável, e com todos lá dentro, para em seguida se deitarem no chão, ao lado, como se estivessem mortos, deleitando-se com a tragédia numa gozação absolutamente inaceitável sobre o triste e desolador acontecimento. Do que se está à espera para acabar, de uma vez por todas, com as praxes em Portugal? Quem toma a dianteira? Servem para a integração dos meninos no meio universitário? Temos pena! Integrem-se doutra maneira menos obtusa e selvagem. Alegar-se-á que haverá universidades que têm praxes equilibradas e aceitáveis? Paciência! Tivessem-nas copiado! Será mais um caso em que justos pagarão por pecadores. Atos académicos pacíficos, como uso de trajes, insígnias, serenatas, desfiles ou cortejos, batismos, orações de sapiência, porque não? São até admiráveis! Leis académicas pardas, repletas de hierarquias, deveres, obrigações, proibições e sanções, medonhas , totalitárias e parvas, definitivamente não! Vão exorcizar problemas educacionais familiares, depressões emocionais e marginalidades veladas para outros lados. Já ninguém tem pachorra!

Reúna-se o Conselho de Reitores, determine-se, com coragem, o fim das praxes nas universidades portuguesas e informe-se seguidamente da decisão o Ministério da Educação. E os meninos rebeldes e birrentos, esses que fazem tudo menos estudar, marimbando-se para os sacrifícios dos pais, vindo a recusar-se acatar uma determinação desta natureza, que a porta da rua lhes seja a serventia da casa. Vão fazer infernos para outro lado.

Não obstante o mito do suposto respeito pela tradição da praxe nascida em Coimbra, em 1954, a verdade é que as universidades foram feitas para formar gente em seriedade e com nível, não arruaceiros, inúteis e parvos. Muito menos deverá ser circo de palhaços. Há que voltar a haver elevação em equilíbrio e em paz, para que, do estudo profundo, sem alheamentos, saiam novos valores, competentes e credíveis, que arrostem, em qualidade, com os desafios do amanhã.

João Gago da Câmara