As palavras do João – O voo das águias
Leio O Voo das Águias, de Ken Follett, escritor britânico dos mais conceituados em todo o mundo, um livro persistentemente anunciado pelo New York Times na qualidade de bestseller. Trata-se de uma história verídica, extraordinariamente bem escrita, passada no Irão, mas também nos Estados Unidos da América, e centrada na revolução iraniana liderada por Khomeini, que acabou por derrubar o regime do Xá Reza Pahlevi.
Dois executivos da EDS, empresa norte-americana de sistemas de processamento de dados, são presos sob acusações falsas forjadas pela polícia política iraniana, e, fracassadas todas as negociações para a sua libertação, acabam por ser extraídos à força da prisão por um grupo de americanos, que, para o efeito, se deslocaram a Teerão e com eles atravessaram a fronteira para a Turquia, restituindo-lhes a ansiada liberdade.
A equipa, chefiada pelo coronel Simons, “uma lenda viva do Exército norte-americano”, como o considera o autor, entrega-se-lhe confiadamente e enceta a perigosa aventura, cujo sucesso perdurará para sempre na história dos mais difíceis resgates levados a cabo por norte-americanos.
Relevo nesta história a humanidade de Ross Perot, o multimilionário fundador e proprietário da EDS, em jamais abandonar os seus dois amigos e quadros superiores a um destino absolutamente imprevisível, deitando sempre a mão a toda a hora, indiscriminadamente, às famílias destes, sendo essa aliás prática corrente para com todos os funcionários da sua empresa. O patrão, que fazia por ser tratado de igual para igual pelos seus administradores e diretores, ele próprio deixando mulher e filhos nos Estados Unidos da América, pôs em risco a própria vida e, sem medo, deslocou-se anonimamente ao Irão com vista a, da retaguarda, orientar as negociações. Reconhecendo então que estavam esgotada todas as vias de diálogo, por lá ficou perigosamente a observar de perto toda a difícil operação de resgate. O sentido de humildade de um multimilionário que criou os filhos sem luxos na preocupação de saberem o que custava a vida e de saírem homens sem vaidades, chefe todo poderoso de um império económico, sempre assentou a sua linha de ação na humanidade que elegeu como princípio fundamental das suas relações profissionais e pessoais. Quando testemunhamos a arrogância, tida como comportamento vulgar de chefias, transversal a todo o mundo do trabalho, esta será, do meu ponto de vista, a grande lição a tirar deste relato: um presidente que respeita e que nunca abandona os seus, aqueles que, arduamente, empregam o seu saber e perseverança na continuidade em crescimento da empresa. O Voo das Águias, vale a pena ler!
João Gago da Câmara