Crónica de Opinião – 14 de fevereiro de 2014
As palavras do João – Parabéns, Mariana
açores_radio_lumena_noticias_turismo_ilha_cronica_João_Gago_CâmaraAs redes sociais são importantes como veículos de debate de ideias e de alerta para o que está menos bem na vida social, política, cultural, até mesmo recreativa. Senão atente-se ao caso de  Mariana, a finalista do concurso musical da SIC “Factor X”.
A miúda é um génio. Tem preparação musical de conservatório mas é de si um génio. Canta com alma, tem um timbre extraordinário, muda de tom como e quando quer, brinca com aquela voz afinadíssima, é simpática, cheia de sorrisos bonitos … Mas Mariana, esse autêntico animal de palco, permitam-me a expressão, perdeu o “Fator X”, que eles escrevem com um c, porque veio da Ribeira Grande para o repenico metropolitano alfacinha, sem lobbies, sem amigos na música, a falar à moda da terra e com o desfavor de estar a atravessar ainda os seus verdes dezasseis anos.
Naturalmente, o facebook reclama, e muito bem, da queda abrupta na final do concurso televisivo desta primeira açoriana a chegar tão longe face a um músico profissional que até não tinha nada que estar ali a fazer, um tal Berg, com uma voz umas vezes satisfatória, mas quantas outras fastidiosa porque demasiado denunciada, por vezes até excessivamente gritada, agravando-lhe o facto de ser aguda. E a génese do concurso era descobrir novos talentos, não ir rebuscar velhos a navios de turismo para agrado de uma mão cheia de senhores instalados na música do país. Os lobbies revelam-se particularmente em tempos de crise pois há que faturar a todo o transe, e uma jovem menina, embora sendo uma extraordinária revelação, acaba por ser apenas um joguete ou mais um degrau na escada do poder onde quando chega a hora se põe o pé em cima. Não nos esqueçamos que a jovem da Ribeira Grande andou a ser gerida cinco meses e meio pela estação de Carnaxide, longe da terra e da família, a contribuir, sem que fosse paga pela estação, para que a SIC faturasse larguíssimos milhares encostada ao  seu talento.
Mariana não pôs as mãos ao céu a rezar para que nela votassem, não tinha carrapitos secos espetados atrás da cabeça, não andou de violão na mão a forçar a conquista de amizades de estabelecidos, não andou por navios a cantarolar, não tinha a responsabilidade de uma família a sustentar, não chorou em palco com cara de coitadinha nem teve a família a chorar na plateia para conseguir vencer o concurso. Mostrou-se ela própria, natural, genuína, com aquele falar carregado da terra, cheia de alegria no coração e inundada de talento. Não estava no “alinhamento”, perdeu. E perdeu Portugal. Mas parabéns, Mariana.


João Gago da Câmara