Crónica de Opinião – 15 de agosto de 2014

As palavras do João – Onde o Sol quase nada se põe

açores_radio_lumena_noticias_turismo_ilha_cronica_João_Gago_CâmaraO navio navegava entre os fiordes da Noruega paralelo à vasta linha de costa frente ao oceano Atlântico Norte e ao mar de Barents . A calmaria dos densos matos virgens subindo a pique as montanhas de ambos os lados, com quedas de águas das neves a precipitarem-se escarpas abaixo, emprestam aos braços de mar noruegueses uma ambiência quase surreal, tanta é a beleza sossegada dessas paragens no distante mar do norte. Sobre as águas espelhadas do bacalhau, em latitudes onde o Sol quase nada se põe, o monstro metálico desafiava as margens demasiado próximas para que os passageiros pudessem comungar da proximidade e da generosidade da natureza consumada num bruto harmonioso que só tais latitudes emprestam.

Fazia-se ouvir nos altifalantes de todo o navio a voz majestosa de Luciano Pavaroti, só ela ganhando o privilégio de esvoaçar a atmosfera das pequenas garças brancas que rodopiavam à volta do navio gritando apelos de arremessos de nacos de pão. No jacuzi, uma solitária turista japonesa extasiada com tanta beleza deixava a emoção cair-lhe dos olhos e também do coração no que se adivinhava ser um misto de nostalgia e de agradecimento pelo bafejo da sorte de conhecer tão admiráveis paragens. Três mil almas passaram onze dias sobre as águas nesse colossal hotel ambulante. Alvos de um tratamento absolutamente “vip”, os turistas em férias ali dormem, comem e convivem numa ambiência ímpar que só quem faz um cruzeiro conhece. De bandeira italiana, o MSC Opera sulca continuamente os sete mares do planeta procurando os lugares mais aprazíveis.  Bergen, Trondheim, Alesund, entre muitas outras cidades nórdicas dessa Europa setentrional, vão ocupando território do Ártico, ou uma parte significativa da península escandinava. E gentes simpáticas, de sorriso aberto e simples, porto a porto, vão acolhendo o turista com uma alegria esfusiante no olhar, apanágio apenas de quem sabe bem receber.

Considerado pela ONU o melhor país do mundo para se viver, a Noruega já rejeitou dois referendos para a adesão à União Europeia. Mantém, todavia, laços estreitos com os países da UE bem como com os Estados Unidos da América. Contrariamente a tantos países que têm petróleo, esta riqueza reverte a favor dos cerca de quatro milhões de cidadãos noruegueses. Do ponto de vista governamental, mantém, e bem, o modelo social escandinavo assente na saúde universal, no ensino superior subsidiado e num regime abrangente de previdência social. Haroldo V é o Rei deste que é considerado um dos países mais pacíficos do globo, havendo sido coroado em 1990 por morte de seu pai Olavo V. É ele também, por inerência de funções, o chefe formal da igreja e das forças armadas norueguesas.

João Gago da Câmara