As palavras do João- Grota do Medo agora em Miami
A datação com quase mil anos de uma pia na Terceira por um laboratório americano vem relançar na Região a teoria de Félix Rodrigues de que poderão não ter sido os portugueses os primeiros a descobrirem os Açores.
A insistência, corajosa, reconheça-se, do professor universitário com base nos polémicos achados arqueológicos da Grota do Medo, a que Félix Rodrigues atribui importância histórica, embora contraditada por uma missão científica de treze especialistas em arqueologia, história e geologia, que se deslocou expressamente à Terceira a solicitação do governo regional, mantém-se, não obstante a teoria do professor estar sucessivamente a cair por terra, deixando Rodrigues teimosamente agarrado à sua jangada de pedra rodeada de grutas e de pias de ceticismo por todos os lados. Uma vez ser o professor filiado no CDS-PP, perante esta sua obstinada luta de homem só contra a incredibilidade de muitos, todavia persistindo em provar o até agora indefensável, recorrendo amiúde à comunicação social que até lhe vai dando alguma guarida, mas que já dá mostras de algum cansaço, os populares, inconformados, chegaram mesmo a dar a entender ter havido uma politização da matéria tendendo serem extraídos daí dividendos político-partidários. Não seria um absurdo que assim tivesse acontecido? Que se partidarizasse matéria, do ponto de vista histórico, de tão elevada importância como o seria a eventual descoberta dos Açores por fenícios, antes dos descobridores portugueses terem acostado a estas ilhas em princípios do século XV? E convidava o governo treze especialistas a visitarem, entre outros locais, a Grota do Medo, na freguesia do Posto Santo, em Angra, só para tapar o sol com a peneira? Obviamente que não!
É sabido ser o método de datação por radiocarbono bastante eficaz, mas esse laboratório em Miami será de facto credível? Confesso que até teria piada se Félix Rodrigues acabasse por ter razão, vendo premiado o seu arrojo, e que os Açores tivessem tido outros povos a passarem por aqui antes dos portugueses, descoberta que só viria enriquecer ainda mais a história destas ilhas.
João Gago da Câmara