As palavras do João – Banco Micaelense de volta aos Açores
A notícia foi veiculada pelo Expresso: O Banif vai encerrar 40 balcões da sua rede de atendimento em dois anos implicando essa medida “algumas saídas” de pessoal com “rescisões amigáveis”. Trata-se, segundo refere o presidente do banco, Jorge Tomé, de “preparar o plano estratégico para candidatar a instituição às linhas de recapitalização do Estado”. O Estado que somos todos nós, a recapitalização com o nosso dinheiro, claro, inclusivamente o dos portugueses que nem sequer são clientes do banco.
Recordo o tempo em que surgem os madeirenses, com Horácio Roque à frente, fundador do Banif – Banco Internacional do Funchal, a adquirirem o BCA em 1996, aquando da sua reprivatização, passando posteriormente, num golpe de marketing, a chamá-lo Banif Açores, mas absorvendo-o integralmente em 2009 na rede Banif.
Recordo também que esse foi o primeiro grande abalo na estrutura da autonomia regional constitucional quando perdíamos uma importante instituição regional de crédito então baluarte da economia e finanças regionais, para mãos exteriores aos Açores movidas apenas pelo lucro, ignorando a forte expressão do banco enquanto instituição carismática dos Açores, do ponto de vista histórico destas nossas ilhas.
Erro político grave esse então cometido e hoje irreparável. Ignorou-se o velho Banco Micaelense criado em 22 de Março de 1912 por exportadores micaelenses de ananás como forma de poderem financiar a sua atividade. Com a revolução do 25 de Abril de 74 viria a nacionalização de bancos acontecida a 15 de Março de 75, nomeadamente a do Banco Micaelense, que, depois, com a institucionalização da Autonomia dos Açores, passou a banco regional, sob a tutela do Governo Regional, adotando, em 1976, a designação de Banco Comercial dos Açores (BCA) e conseguindo a maior cota de mercado no arquipélago.
Muda-se a história, mudam-se as vontades. Será aventureirismo a mais equacionar-se a hipótese de retorno aos Açores do velho Banco Micaelense, retomando-se uma instituição cuja filosofia de intervenção no mercado era sempre servir os Açores primeiro e que tão bons resultados económicos trouxe às nossas ilhas? Fica a ideia no ar.
Por João Gago da Câmara