
As palavras do João – Palmas para os pimbas
Há dias, no facebook, Rui Veloso, o pioneiro do rock em Portugal, insurgia-se, e muito bem, contra o facto de se não valorizar a boa música portuguesa, quando o poder económico fala, neste caso, canta, sempre mais alto. As grandes músicas do passado em Portugal ficam cada vez mais relegadas para segundo plano sempre que por aí surge um pimba qualquer que de um dia para o outro se vê exponencialmente promovido por uma estação de televisão popularucha, que, apenas atenta ao lucro fácil, faz crer ao ingénuo zé povo estar ali uma estrela. E lá fica o anfiteatro cheio de uma assistência caduca a bater palmas efusivas e as Marias e os Josés lá nas casas deles vibram igualmente com o vomitório de aberrações.
Vem esta publicação “facebuquiana” sobretudo a propósito de Maria João Bastos, personagem da novela “Destinos cruzados”, da TVI, agora usando o nome artístico de Liliane Marise, passar a dar concertos, e atuando mesmo, a 26 de outubro, no Meo Arena, ex-Pavilhão Atlântico, em Lisboa. A notícia foi divulgada pela TVI que promete “uma grande festa ao som de temas que já são sucessos nacionais como Pancadinhas de amor e Eu quero uma mala chique”.
No país de Amália, de Alfredo Marceneiro, Carlos do Carmo, Marisa e Kátia Gerreiro, de Gedeão, Manuel Freire e José Mário Branco, dos Sheiks, Quarteto 1111, Petrus Castrus, António Variações, Mike Seargeant e Ramon Galarza, dos Heróis do Mar, Xutos e pontapés, UHF, Rádio Macau, Madredeus, Silence 4 e Ornatos Violeta, o que é bom, e deve ser promovido e mantido, é pimba. É Quim Barreiros com “Chupa Teresa”, Malhoa com “Dei-lhe duas seguidas” e Nikita, que vai às manhãs do cozinheiro piroso e tudo o resto que a gente sabe, Goucha, vociferar frases parvas e guinchar sons repelentes.
Culpados disto? Para além dos TVI’s são os governantes deste país que, cada vez mais, promovem a incultura, mantendo, vai-se lá saber se não por interesses velados, um povo acarneirado na ignorância quando as universidades estão aí repletas de aulas vazias.
De manhã, no café da esquina, é preciso pedir, quase encarecidamente, para mudarem para a Sic Notícias, quando as televisões, sem exceção, em todos os cafés da cidade, estão sintonizadas em permanência no cambado ou na querida Júlia.
Vai-nos restando, para descanso mental, o velho legado musical dos grandes, dos verdadeiros, que religiosamente fomos reunindo pelos anos fora e que nos moraliza e eleva. Foram outros tempos e outras músicas.
João Gago da Câmara