O bispo de Angra convidou esta tarde os açorianos a olharem para a cruz não como uma derrota mas como “amor que salva”, sobretudo num mundo onde a sede de justiça, de amor e de Deus “continua por saciar”.
D. Armando Esteves Domingues presidiu na Sé à celebração da Paixão do Senhor, que evoca a morte de Jesus, num dia de jejum para os fiéis, que não celebram a Missa, mas uma cerimónia com a apresentação e adoração da cruz, no inicio da qual o presidente e demais concelebrantes se prostram.
“Prostrados, é mais fácil ver que a paixão continua” afirmou o prelado ao salientar as várias cruzes que o mundo ainda hoje atravessa. Apesar do amor revelado por Jesus ao entregar-se voluntariamente para sofrer a morte, as infidelidades e traições, como a de Pedro ou de Judas, mantiveram-se ao longo da história, exigindo que hoje ninguém fique indiferente.
“Continua nestes dias nos numerosos jardins das oliveiras espalhados pelo mundo onde a morte semeia angústia como na Ucrânia; continua nos muitos países deste mundo, onde milhões de refugiados não encontram a paz; continua nos doentes deixados sozinhos em agonia; continua naqueles idosos abandonados em hospitais ou Casas de Recolhimento; continua onde quer que se sue sangue, devido à dor e ao desespero”, afirmou D. Armando Esteves Domingues na curta homilia que proferiu.
O prelado destacou, por isso, que a cruz apesar do sofrimento que representa é o antídoto contra o egoísmo e a indiferença.
“De facto, no seu abandono, Jesus continuou e continua a amar os Seus, mesmo os que O deixaram sozinho” afirmou.
Por isso, sublinhou: “A cruz para nós também já não é uma maldição, mas Evangelho, amor que salva”.
“Tudo estava concluído? Não! A Sua sede ficou por saciar: a sede de justiça, sede de amor, sede de Deus e todas as outras sedes… Porquê? Porque nos deixou a nós, seus discípulos e porque nos continuará a segredar: “Se não me amas tu, quem me amará”? Se não tu, quem matará esta sede?”, interpelou o responsável pela igreja açoriana.
Nesta celebração onde a adoração da cruz é o elemento preponderante, a Liturgia da Palavra, tem um dos elementos mais antigos da sexta-feira santa, a grande oração universal, com dez intenções que procuram abranger todas as necessidades e todas as realidades da humanidade, rezando pelos seus governantes, pela unidade entre os cristãos, pelo Papa, pelos que não têm fé , pelos pobres e pelos que sofrem. Este ano, particularmente a Comissão Episcopal A Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), propôs a todas as dioceses do país uma intenção especial de oração pelas vítimas de abusos.
“Por todas as Pessoas vítimas de abusos, para que Deus nosso Senhor conceda a cura das suas feridas, coragem aos que as acompanham, conforto às famílias e torne cada vez mais a Igreja um ambiente seguro”, refere o texto da oração.
Durante a celebração da Paixão do Senhor há o rito da adoração e do beijo devocional da Cruz, como sinal de reverência.
RL/IA