Falta de antecipação ao fim das quotas do leite foi erro fundamental do Governo Regional

O Bloco de Esquerda apontou “a falta de estratégia, a incapacidade de antecipação e a recusa em construir alternativas” perante o fim do regime de quotas leiteiras como os erros fundamentais do Governo Regional, que conduziram à atual situação de crise na agricultura açoriana. O assunto foi objeto de debate esta manhã no parlamento, por iniciativa do BE.

Reconhecendo que a União Europeia é a primeira responsável por esta crise – “a cereja no topo do bolo”, Zuraida Soares lembrou que “o bolo foi feito nos Açores, pelos sucessivos governos regionais”, que, mesmo sabendo, desde 2003, que o regime de quotas iria acabar, direcionaram sempre toda a estratégia e todos os apoios apenas para o aumento da produção, em detrimento do aumento da qualidade.

Os sucessivos governos regionais, surfando a onda dominante carregada de subsídos, promoviam a produção, assumiam a compra de quotas ao exterior, e fomentavam a importação de rações e forragens, e optaram por ignorar o caminho do aumento da qualidade, do emparcelamento ativo, e do leite biológico, o caminho apontado por diversos sectores, incluindo especialistas da Universidade dos Açores.

Perante a afirmação do presidente do Governo Regional, que defendeu, no âmbito do debate,  que o problema estava no mercado, a deputada do BE salientou que “só há um problema de mercado e de escoamento do leite dos Açores porque há um problema de sobreprodução. E só há sobreprodução porque o Governo Regional apostou tudo – incluindo os milhões da União Europeia – em incentivar os produtores a aumentar a quantidade de leite, em vez de apostar na diferenciação pela qualidade”.

Zuraida Soares fez questão de assinalar também o contributo negativo dos últimos Governos da República para a situação de “autêntica catástrofe” que se vive na fileira do leite, e que, segundo os representantes associativos do sector, empurrou 60% a 70% dos produtores para a falência técnica: “Seria interessante que, hoje, PSD e PS viessem pedir desculpa aos produtores, por aquilo que andaram a defender em 1999 (com Capoulas Santos, do Governo de António Guterres), em 2003 (a primeira assinatura para o fim das quotas, com Sevinate Pinto, do Governo de Durão Barroso) e em 2008 (com Jaime Silva, do Governo de José Sócrates).

“Para os nossos lavradores terem maiores rendimentos e o sector ter mais pujança é urgente mudar de políticas, apoiando claramente o aumento da qualidade da produção e a diferenciação de produtos”, concluiu a deputada do BE, sem deixar de referir que o combate em defesa da implementação de um mecanismo de regulação pela União Europeia deve continuar.

GI BE Açores/RL Açores