Há 20 anos o Pico da Esperança foi a última paragem do voo SP530

O Voo SP530 da SATA Air Açores não chegou ao seu destino há 20 anos atrás. No percurso Ponta Delgada – Flores, estava prevista uma escala no Aeroporto da Horta, ilha do Faial.  O dia era de mau tempo. Estávamos a 11 de dezembro de 1999. Eram 9h20 quando o ATP (de nome “Graciosa”) da transportadora aérea açoriana colidiu com o Morro Pelado, ao lado do Pico da Esperança, na ilha de São Jorge, vitimando todos os passageiros e tripulação, num total de 35 pessoas.

O Relatório da Comissão de Inquérito ao acidente, divulgado pelo Instituto Nacional de Aviação Civil concluiu que o voo foi planeado para uma rota direta ao Aeroporto da Horta, tendo a aeronave efetuado um desvio “sem que a tripulação se apercebesse”, até que começou a cruzar a linha da costa Norte de São Jorge, onde viria a embater.

A tripulação “estava plenamente convencida” que a aeronave se encontrava sobre o Canal São Jorge/Pico e a sua atenção estava mais concentrada nas más condições meteorológicas da altura.

Após soar o alerta de impacto, 3 segundos antes do primeiro impacto, o co-piloto alerta para o facto de estarem “a perder altitude e em cima de São Jorge”. Apesar dos pilotos terem aumentado a potência dos motores, a manobra foi “insuficiente para ultrapassar o obstáculo”. A manobra foi “insuficiente” para evitar a colisão, que causou uma violenta explosão e deixou o avião totalmente destruído.

Depois de descolar, às 8h37, do Aeroporto de Ponta Delgada, o “Graciosa” fez 34 minutos de voo depois do seu último contacto com terra. Só o estrondo e o intenso cheiro a combustível é que alertaram um pastor que, muitos metros abaixo, foi procurar forma de contatar com as autoridades para alertar para o facto de algo de anormal ter acontecido no cimo do Monte Pelado.

A conclusão do Relatório indica que a falta de respeito pela altitude de segurança, uma “navegação estimada imprecisa” e a “não utilização correta do radar de tempo” foram as principais causas do desastre. As más condições meteorológicas nesse dia – céu muito nublado, vento moderado a forte, provocando acentuada turbulência – e a inexistência de meios autónomos de navegação a bordo do avião (por exemplo, uso do GPS), que pudessem determinar a sua posição com rigor, constituíram fatores que contribuíram para o acidente.

Quanto à aeronave sinistrada, concluiu-se que “estava em condições de navegabilidade, de acordo com os regulamentos e procedimentos aprovados pela autoridade aeronáutica” nacional.

Segundo a Associação Portuguesa de Pilotos de Linha Aérea, o fator que contribuiu para o acidente com o avião da SATA foi “a deficiente qualidade e quantidade de infraestruturas de apoio à navegação aérea”.

A tripulação era constituída por Arnaldo Mesquita e António Magalhães, João Portugal e Emanuel Medeiros. O piloto tinha mais de 20 anos de voos inter-ilhas, sendo um dos muitos valentes pilotos da SATA, por todos reconhecidos como “pilotos de primeira linha, já que trabalham em condições adversas”.

Foi há 20 anos que ocorreu o maior acidente da Companhia aérea açoriana e que ainda hoje ninguém esquece.

RCA/RL Açores

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